Se tu és artesã já deves ouvido – ou dito, coisas do tipo {cá entre nós, eu não aguento mais ouvir isso!}
- “Ninguém valoriza o artesanato”.
- “As pessoas não querem pagar o que vale”.
- “Não consigo vender; as pessoas acham caro”.
Tenho percebido, no entanto que é de nós mesmas, artesãs, que isso depende.
Depende da nossa visão sobre o artesanato e sobre viver de artesanato!
Nós precisamos nos educar para uma visão diferente (mindset) – e promover isso em quem nos rodeia.
Olha essa historinha abaixo, pra entender melhor o que quero dizer! Ah, mas antes: eu não quero aqui esgotar o assunto. Nem sou dona da verdade. Nem pretendo dar “lição”. Só quero compartilhar algumas coisas que percebo e tenho tentado aprender com elas!
{Uma historinha feliz}
Minha filha está de férias na Colômbia. Essa semana ela me mandou uma mensagem, dizendo que havia comprado um presente artesanal pra mim – um colar de couro. Mandou a foto. E depois, olha a conversa:
Percebeu? Ela diz ter aprendido que tem que valorizar. E pagou, por que já entendeu o que tem por trás do trabalho artesanal. E achou lindo – também aprendeu a gostar de peças artesanais, por que cresceu no meio delas e me viu, a vida toda, fazendo, comprando e presenteando artesanato.
Então, é com a gente que as pessoas vão aprender a valorizar! É a gente comprando artesanato, valorizando o artesanato da outra artesã!
“Respirar artesanato”
A Marta fez uma live lá no grupo Brinquedos artesanais com panos e fios e falou sobre essa questão da gente usar e presentear artesanato. Pra ela, essa é uma forma, inclusive, de começar a trabalhar com artesanato, mesmo paralelamente a outras atividades. E isso é uma forma de dar o devido valor ao artesanato. No momento que presenteio alguém, ou eu mesma uso, estou dizendo pro mundo o que penso sobre uma peça feita a mão!
Ganhar algo sem custo adicional, é ótimo!
Quem não gosta de presentes? De ganhar algo de graça? Ou com um bom desconto? E de dar algo sem custo? Claro, todos gostamos de dar e receber. Compartilhar faz parte da vida em sociedade, não é?
Maaaaas…
se a gente defende que viver de artesanato é um sonho, que viver de artesanato é legal – artesanato e tudo que envolve fazer artesanato tem que ter preço bem calculado, né?
Tem cliente que começa pedindo desconto, né? Mas percebo que, às vezes, as próprias artesãs fazem isso com outras artesãs e acabam não demonstrando que artesanato tem valor, sim senhor! Elas próprias não se dão conta que, na forma como agem, estão desfavorecendo o processo artesanal! Percebo isso em comentários nas redes sociais, quando artesãs de posicionam diante de produtos, cursos, oficinas, apostilas … que, para serem produzidas, exigiram investimento de tempo, conhecimento e materiais.
{Uma historinha triste}
Enquanto escrevia lembre que um dia desses (faz um tempinho) uma artesã fez uma compra de material para artesanato aqui no site, e colocou que não precisava de frete, que ia retirar no local. Aí percebi que ela era de outro estado e perguntei, ingenuamente: estás passeando aqui por Porto Alegre? Por que, do contrário, precisarei acrescentar o valor do frete.
E o que ela respondeu? Olha só:
Sério que vou ter que pagar 10,50 para receber o pedido?
Estou indignada,por já comprei em outros site mais longe que o de vocês e não paguei nada além do valor do pedido,se for assim por favor queira cancelar minha compra e meu cadastro na sua loja.
Claro que frete grátis é legal, né? Mas se o frete é grátis, de algum lugar tem que sair esse valor, né? Eu prefiro manter o valor real do produto, sem fazer pesar sobre ele o frete…! Foi o que expliquei pra ela. E concluí:
Mas entendo sua escolha em não querer pagar frete. Não há problemas em cancelar a compra. Farei de acordo com seu pedido. De qualquer forma, permaneço à disposição.
Minha esperança é ela aprender… e entender que agindo assim, também terá dificuldade de ver os outros valorizarem o artesanato dela! É claro que a gente precisa buscar o melhor preço, a melhor compra. É certo que muitas vezes não podemos pagar. Mas não é isso que está por trás das palavras dessa cliente, né? Há uma atitude de escassez, de incompreensão sobre o processo, de não valorizar o trabalho do outro! E, dessa forma, dificilmente se ajuda alguém a valorizar o artesanato!
Ainda bem, só vi isso acontecer uma vez por aqui 🙂 nesses 4 anos!
{Uma historinha estranha}
Já ouviste falar que o que é de graça não é valorizado? É estranho isso, né? As pessoas querem as coisas de graça … mas aí não usam! No ano passado, criei o primeiro módulo do mini-curso de Cesto Organizador e por alguns dias ofereci a inscrição gratuita (foi rapidinho, e fechou aquele módulo; a versão atual, que é paga, terá vários modelos adicionais, que já estão prontos pra colocar lá – alunas, loguinho, viu? e vem muita coisa legal nesse curso ainda!), pois queria que as pessoas conhecessem como são os nossos cursos “por dentro”. E foi uma super-oferta!
Eis que essa semana fui analisar: das que se inscreveram, em torno de 50% sequer abriram o curso! Ou seja, depois de 1 ano inteirinho pra acessar, nem olharam “pra dentro” do curso. Sim, eu sei bem como é: muitas vezes até compramos materiais e não chegamos a usar; a senha pode não ter chegado; não temos tempo para coisas que gostaríamos de fazer; é muita informação ao nosso dispor e não conseguimos “digerir”. Entendo, perfeitamente. Também já passei por isso.
Bom, as outras 30% entraram, mas não sei se assistiram as aulas e esqueceram de marcar que viram, ou se não assistiram – e talvez tenham visto, mas não tenham conseguido fazer, tiveram alguma dificuldade (mas ninguém delas perguntou algo no espaço para comentários), ou até mesmo, não tenham gostado (o que é normal, também, não vejo problema, né?)
{Parte feliz}
Mas tem 20% delas que assistiram, fizeram cestos e hoje continuam fazendo – pra vender ou presentear. E fico beeeem feliz que elas tenham aproveitado a oportunidade e achado formas de agregar ao seu artesanato.
O que aprendi, é que algumas vezes as pessoas pedem por pedir… e nem desejam, verdadeiramente! E aprendi também que vale à pena, por que sempre tem quem aproveite muito bem e, com isso, valoriza a si mesma e a nós também, né? (por isso a gente tem um grupo com oficinas gratuitas, tem apostila gratuita … e tem apostila e curso pago, pra poder oferecer muito mais ainda!)
Qualidade, aperfeiçoamento permanente, inovação
Além da atitude, pra mim existem outras maneiras do teu artesanato ser valorizado: melhorar sempre, buscar e aceitar ajuda, fazer cursos, buscar as melhores formas de fazer algo, buscar se desenvolver, encontrar seu próprio estilo e inovar, usar materiais confiáveis, ter zelo pelos acabamentos, saber que nem tudo que tu gostas os outros vão gostar, ser fiel ao que ofereces (ou seja, não dá pra colocar foto linda e fazer mal feito!), dar o melhor de ti em cada peça (isso vale pra qualquer profissão, não é?), encontrar formas de agregar valor ao que já fazes.
Juntar-se com outras artesãs, buscar formas de compartilhar com outras artesãs para somar, para fazer parcerias, compartilhar e divulgar outras artesãs, isso traz crescimento (podes ver uma apostila gratuita sobre parcerias aqui). A gente aqui busca aperfeiçoamento sempre, especialmente naquilo que a gente sabe menos. Por exemplo, aqui fizemos cursos e buscamos inspirações e conhecimento sobre ser artesã e empreender com artesanato, com várias pessoas, entre elas o André Gibran, com o Eder Machado e com a Rafa Cappai. Segue essa turma, vais gostar e aprender muito com eles e com pessoas que eles nos apresentam!
Está mudando!
Apesar do que eu trouxe aqui, vejo que as coisas estão mudando. As pessoas estão querendo produtos locais, produtos manufaturados, produtos feitos com afeto e com história, processos sustentáveis – e isso significa ter clientes que valorizam muito o artesanato!
Basta a gente, como artesã, entender isso também. E viver assim. E praticar isso!
E fico feliz quando vejo o entusiasmo de muita artesã, buscando o aperfeiçoamento, interagindo em grupos para aprender juntas, compartilhando conhecimento e os objetivos de viver de artesanato.
E tu, o que pensas sobre tudo isso?
Quais são tuas vivências no mundo artesanal? Ou quais as tuas expectativas?
E se queres participar do nosso grupo, clica e vem com a gente!
Adorei a história feliz! Que amor tua filha! Sempre querida! E pena a história triste… Boa sorte e vai em frente! bjs, chica
Obrigada, Chica, por sempre vir aqui. 🙂 Fofa a filhota, né? E quanto às outras historinhas, elas me ensinam também!!
Muito bom, Marion! Tem que ter mesmo essa preocupação com a mente das artesãs, pq é exatamente como vc falou: elas querem ser seu trabalho valorizado mas elas mesmas não valorizam o próprio trabalho e o trabalho de outros artesãos. Compartilhando tua postagem, AGORA! Obrigada! 😉
Né, Shirley?
Valeu, obrigada pela visita aqui! Sempre bem-vinda.
Perfeito …. Amei o post….
Valeu, Celina!
Bjo, Marion. Sempre bem-vinda aqui!
Gostei demais e vou compartilhar
Que bom Kamilla! São coisas que a gente vê todo dia, né?
Abs. e bem-vinda, sempre.
Nós temos que nós valorizar e agregar valores ao nosso trabalho. E fazer isso com o outro .